A tecnologia avança em ritmo acelerado e tem mudado a forma com que trabalhamos, nos relacionamos e nos divertimos. Mas será que essa transformação digital pode também mudar a forma com que ajudamos os outros?
Para responder a essa pergunta, precisamos entender melhor os impactos disso no Terceiro Setor e em nossas vidas. A tecnologia mudou como consumimos informação e nossa interação com ela. A comunicação é cada vez mais simples e rápida; já a informação é abundante e contínua. A forma com que as pessoas se relacionam com as organizações sem fins lucrativos também está mudando. Um exemplo é a interação mais ativa nas redes sociais, sendo muito mais fácil monitorar e acompanhar de perto as atividades desenvolvidas. Outro exemplo é o da arrecadação de doações via telemarketing e a busca por dinheiro na casa das pessoas. Esse modelo será cada vez menos efetivo, pois além dos custos e riscos elevados, não atingirá o público mais jovem com grande potencial para ajudar.
Falando em doação, as pessoas buscam facilidade e comodidade para suas tarefas diárias, inclusive para doar. Elas já estão acostumadas a comprar pela internet. Por isso, as doações on-line têm se popularizado ano após ano, e a perspectiva é bastante otimista, assim como temos vivenciado o crescimento exponencial do comércio eletrônico, batendo recordes a cada ano. Hoje todo mundo já fez alguma compra on-line. A insegurança anterior das pessoas foi sobreposta pelo avanço da tecnologia e pela enorme comodidade gerada. O mesmo está acontecendo com as doações espontâneas no Terceiro Setor: uma migração para o digital.
Diante desse cenário, precisamos fazer um paralelo com o mundo corporativo. Uma empresa precisa manter seus investidores informados. Já no mundo das organizações sem finalidade de lucro, os doadores são os principais interessados. Poucas instituições se deram conta de que os doadores estão exigindo cada vez mais transparência nas informações em troca de suas doações. Mais do que isso, o doador quer se relacionar, ajudar e fazer parte de algo maior – e ainda ser reconhecido por isso. Poucas são as organizações que publicam informações detalhadas sobre o desempenho econômico e do seu impacto social. Grande parte delas não divulga porque não possui os dados, ou ainda, não tem certeza se estão corretos. Raras instituições se preocupam em se relacionar bem com seus doadores, enviando informações ou simplesmente agradecendo sua ajuda. Essa negligência pode custar muito caro! Afinal, você doaria para uma ONG que é pouco transparente ou cujo impacto social não seja evidente?
Aprofundando na realidade das ONGs, é comum encontrar pilhas de papel desorganizadas, como notas fiscais, extratos bancários, recibos de doação e até fichas de beneficiários ou de atendimento, informações que muitas vezes requerem sigilo. Ou ainda, planilhas para registro de tudo com informações desconectadas e totalmente espalhadas entre departamentos, esperando serem perdidas ou esquecidas. Transformar tudo isso em um fluxo coordenado de dados em um só local e de forma segura é o que pode realmente salvar a reputação dessas organizações diante dos doadores e de suas parcerias com o poder público.
Nesse sentido, o governo, por meio da lei 13.019/2014, também conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil, estabeleceu diretrizes para a transferência de recursos financeiros para as OSCs. Quando uma parceria é firmada, a entidade precisa atender diversas exigências, como mostrar como o dinheiro foi gasto e qual o impacto social gerado, ou seja, sua eficiência. O marco regulatório tem impactado tanto positiva quanto negativamente o Terceiro Setor. Como tudo na vida, existem os defensores e os que condenam a lei.
O que se observa, na realidade, é que o impacto negativo advém principalmente do despreparo e falta de organização de grande parte das instituições. Muitas delas infelizmente estão fechando ou tendo sérias dificuldades para se adaptar a essa nova e dura realidade de exigências. Isso realmente é uma pena. Entretanto, o impacto positivo do marco é que ele tem forçado as organizações sociais a se movimentar no sentido de melhorar sua gestão, principalmente com a utilização de softwares.
Observamos várias instituições buscando uma profissionalização de sua gestão, aproveitando para se aperfeiçoar e entregar mais. E isso é algo muito positivo trazido pelo marco regulatório.
Além das doações e das parcerias públicas, o voluntariado tem papel fundamental no Terceiro Setor, sem dúvida. Entretanto, poucas organizações fazem uma gestão adequada de seus voluntários. É preciso saber quem são, medir e mostrar exatamente qual o impacto que esse trabalho gera. Mais que isso, trata-se inclusive de uma obrigação na contabilidade aplicada ao Terceiro Setor. Todo o trabalho voluntário desenvolvido, inclusive dos membros integrantes da administração, deve ser reconhecido pelo valor justo da prestação do serviço, como se tivesse ocorrido um desembolso financeiro. Logo, se a organização social não registra e controla tais informações, como poderá saber a importância
desses voluntários?
Um fato curioso que temos observado, por trabalhar com tecnologia aplicada à gestão no Terceiro Setor, é que alguns profissionais dessas organizações já estão familiarizados com termos técnicos como Cloud Computing, Big Data e Business Intelligence. Ou seja, esses profissionais, ainda que poucos, já enxergaram que sem o uso da tecnologia e acesso aos dados gerenciais, mais difícil serão as chances de sucesso. É bem verdade, entretanto, que poucas organizações possuem pessoas da área de TI (Tecnologia da Informação), já que seus orçamentos são apertados. Normalmente as equipes nessas ONGs são 3 vezes menores que em uma empresa de mesmo porte. Isso precisa mudar.
Por tudo isso, organizar e manter os dados é essencial para entender onde se pode ter impacto social. Os dados indicarão os custos de cada projeto e o resultado a ser gerado, para que se possa dimensionar esse impacto sob diferentes óticas. Dessa forma, a diretoria de uma ONG pode inovar e produzir novos serviços para sua missão social, trazendo benefícios reais a toda a comunidade à sua volta. Portanto, como nunca antes, faz-se tão necessário o uso de softwares e tecnologia dentro do Terceiro Setor. É evidente a transformação digital que todos vivem e não é diferente da realidade das organizações sociais.
Todos esses problemas e dificuldades fazem parte dessas transformações que o mundo moderno trouxe ao Terceiro Setor. Elas exigem adaptações e profundas modificações na realidade atual das ONGs e principalmente no modo com que são administradas. Elas precisam, desde já, entender esse “novo mundo digital”. É preciso ter dados e uma visão gerencial, como em uma empresa privada. Além de assimilar tudo isso, as instituições precisam se envolver e transformar essa nova realidade em oportunidades. Atualmente, qualquer organização, da pequena à grande, pode utilizar a tecnologia a seu favor para aumentar seu impacto social e melhorar seu desempenho e viabilidade econômica. Não deixe a onda te afogar, surfe nela.
Fonte: https://www.filantropia.ong/informacao/o-impacto-da-transformacao-digital-nas-organizacoes-sociais
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